ROQUE SANTEIRO E SORVETE DE MANGA
- Jeff Peixoto

- 7 de fev. de 2019
- 2 min de leitura

Outro dia me flagrei sentindo saudade de meu tempo de criança, quando minha família se reunia na sala, uns no sofá, outros no chão repousando a cabeça sobre almofadas, para assistir televisão. Não tinha essa coisa de tv no quarto, era só aquela tela gorducha na estante da sala e sem controle remoto! As opções de canais eram poucas, mal passando de uma meia dúzia. Acabava que todos tinham que assistir juntos a mesma programação. Eu lembro do sorvete de manga caseiro após o jantar quando nem piscávamos diante da novela Roque Santeiro. O tilintar do relógio de Sinhozinho Malta, “Tô certo ou tô errado?”; da histeria de Viúva Porcina; do charme do cafajeste Roberto Mathias que era interpretado por Fábio Jr. Quando a novela findava, era hora de ir para cama dormir. Sem mais nenhuma outra atração que não fosse uma breve leitura de gibis ou qualquer literatura. Não havia celular, não havia Netflix, não havia Instagram, Facebook, nada disso! E talvez por não existirem ainda todas as ferramentas, o sono parecia ser bem mais tranquilo.
Hoje, ih! Temos coisas demais para ver e ouvir. Um menu de infinitas atrações para serem consumidas, mas o que me parece é que essas coisas é quem vêm nos consumindo, dia a dia, hora a hora, a cada minuto que nos frustramos por não termos tempo e sanidade suficiente para absorver tudo que se mostra tão colorido e iluminado diante dos nossos olhos.
Se, por um lado, a vertiginosa ampliação de opções e da facilidade de acesso a tudo nos torna mais independente e seletivos quanto aos nossos reais gostos, por outro lado, vem criando uma geração que se encarcera numa pseudosolidão que, por terem a impressão de estarem “conectados” a tudo e a todos, nem percebem que estão cada vez mais sozinhos.
Senti saudade dos tempos das lojas de discos, também dos tempos em que ir à locadora de vídeo era um programa até mais divertido do que o próprio filme. Bater papo com a moça que indicava alguns filmecos, não sabia de nada, mas era algo que fazia de mim alguém com mais vida. Hoje, cada qual com seu aparelho assistindo ou ouvindo seus interesses tão particulares, pessoas que mal conseguem se encontrar dentro da própria casa.
Temos muitas coisas para ver e ouvir, muitas mesmo, inclusive nesse leque absurdo de opções me deparo com a novela Roque Santeiro à minha disposição em uma plataforma streaming, na íntegra! E com a vantagem de poder parar ou voltar quando bem entender, sem precisar esperar o dia seguinte para assistir a um novo capítulo. Só falta mesmo o sorvete de manga caseiro.








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