NÃO DEVEMOS IGNORAR A IGNORÂNCIA
- Jeff Peixoto

- 10 de fev de 2019
- 2 min de leitura

Nos tempos atuais, de um excesso de informação e extrema facilidade de obtê-la, tenho a impressão de que vivemos um novo “Iluminismo”. Todo mundo parece saber de tudo, qualquer bicho de orelha faz defesas de teses nas mais distintas áreas do conhecimento. E, como esse jogo verborrágico se dá entre uma infinidade de novos “pensadores” de um mesmo quilate, puramente pautado na “infor-mação” absorvida, seja ela de onde vier, esse jogo de ideias vai se tornando uma loucura coletiva, quase uma histeria. Teorias descabidas que vão da política, passando pela religião e chegando ao futebol, vão sendo propagadas sem o menor cuidado intelectual, bastando repetir asneiras quantas forem, repercutindo besteiras originais com um toque pessoal “todo especial” que torna o tema ainda mais paupérrimo.
E se você questionar “De onde você tirou essa ideia”, ouve-se como resposta embaraçosa: “Sei lá, eu vi na internet”. A culpa é sempre da internet! Mal se deram conta de que a grande rede funciona como prateleira e não como livro. É preciso parar de observar o mundo além das manchetes, memes, vídeos toscos e postagens de 140 caracteres. É preciso ir além da capa do livro, além da sinopse dos filmes, não bocejar diante de um quadro e não cochilar diante de uma peça de teatro ou um recital. Estamos vivendo uma época perigosa para o campo das ideias, a prática do Ctrl+C/ Ctrl+V vem tornando os cérebros cada vez mais preguiçosos, a ideia de Antoine Lavoisier, de que “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, mais tarde adaptada pelo Velho Guerreiro como “Nada se cria, tudo se copia”, vem sendo aplicada de maneira indistinta e sem a menor cerimônia. A originalidade, assim como a água, serão escassas muito em breve. A ignorância a respeito de tudo será uma praga universal disfarçada pelo excesso de “informação”.
Como o nosso modelo educacional, o brasileiro, há tempos não investe em qualidade, mas sim em quantidade (nem isso mais), a tendência é termos uma nova geração de homens-papagaios, apenas reproduzindo e não mais interferindo. Não devemos ignorar a ignorância, precisamos rever a forma como a sociedade moderna tem encarado o conflito “Infor-mação X Conhecimento. Se fui irônico em citar no início desta crônica que vivemos um novo “Iluminismo”, seria de enorme valia se realmente o precursor desse movimento, o matemático francês René Descartes, voltasse com um sopapo, recomendando que “para se chegar à verdade, que se duvide de tudo, mesmo das coisas aparentemente verdadeiras”. E cá estou eu reproduzindo ideias alheias, no entanto, cumprindo meu papel intelectual de interferir e pensar além delas, jamais ignorando a minha própria ignorância.








Comentários